segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ERA UMA VEZ... ( V )


Capítulo Quinto



E assim, a pequena Dríade partiu no coche colorido do crepúsculo. O sol estendeu-lhe um tapete de luz e as auras perfumosas ciciaram às folhas que se curvaram à sua passagem. Ela era a virgem dos mistérios, e o seu sorriso fugaz, como lampejo de felicidade, fez expandir exultações selvagens na intressência dos anelos sôfregos do Elfo. E antes que desaparecesse por completo, por entre as nuvens disse:

- Não desejo apagar jamais, com um segundo encontro, a ilusória certeza do seu amor, que julguei fosse meu, naquele instante que fugiu no tempo...

O Elfo viu descer, para o ventre aberto do infortúnio, o esquife imaterial de seus sonhos mais belos. Um poeta não pode ver a luz dourada aos poucos transformar-se em penumbra amarga e feia, é a vida de sua alma em seus versos que o mantém vivo, são seus versos, sua alma, lhe alimentando a alma. É sua alma em canções acordando as belezas que ele conhece e vislumbra...

A mulher apenas humana, em vão tentava elevar às alturas o ex amante, na valsejante labareda azul do seu amor. Ele nada quis ver, rodeado pela paliçada de gêlo da indiferença, sem perceber que ela era uma flor da angustia, dia a dia perdendo as pétalas...

Era o poeta indiferente. Não mais queria ver a sua cabeleira rebelde, como um pássaro doidejando ao vento, não mais o seu olhar inexpressivo. não procurou tampouco a primavera em seu sorriso. Nem desejou a carícia das suas mãos, como o ideal do sonhar.

O poeta do desengano, deixou o tédio apossar-se dele, e em vão o seu sangue bradava à vida que o libertasse. Ele agora via o mundo como uma paisagem desoladoramente triste, sem as cores de uma razão de viver.

O poeta dos mundos transcendentes pensava na morte, no desaparecimento final do ser, a incompreensão o envolvia num manto imponderável. Então, numa apoteose de revérberos, uma estrela cadente riscou o espaço, como uma grande exclamação de luz.

O Elfo viu nessa exclamação a resposta do espaço às suas indagações. era o baque violento da palavra exclarecedora: Morte!

Voou orientado pelo brilho da estrela cadente, e foi ter àquele lugar, no reino da blogosfera, onde a alegria cantava na sua alma.

Via-se ali, as figuras donairosas das Dríades dos cabelos de ouro, irmãs de sua amada... Elas se reclinavam suavemente sobre os rochedos esparços que ali se achavam, e desferiam dulcíssimas melodias.

E o jovem poeta das lendas, vendo sua sombra desenhar-se na clareira das Dríades, teve um sorriso indecifrável e, arrancando da bainha o gládio de prata, embebeu-o no coração...

Entendeu que, um dia, ele havia de esquecer as imagens, os sons, os perfumes, os cabelos de ouro de sua amada. E preferiu morrer, tendo ainda ante os olhos extasiados a visão maravilhosa, a ir profanar, com os cenários vulgares do mundo, a lembrança do reino das Dríades, que somente uma vez se vê.





...CONTINUA



T@CITO/XANADU

5 comentários:

mARa disse...

rsssss...seu conto é triste e apaixonante, faz-nos refletir,deveras, arrisco até que é um conto metáfora de muitos que o lêem, Poetas,Poetas, com alma de Elfo, enamoram-se sempre por humanas, essas amigas dos duendos do mal. Elfos Poetas e suas Dríades diáfanas.Linda essa miscelânea de seres em teu conto, Duendes do Mal,Dríade, Mulher apenas humana, Poeta com alma de Elfo (quase humano).Excelente tessitura. Mas, cuidado Elfo Poeta, Dríades ficam cada uma em sua árvore, e abençoam os humanos que delas cuidam.Mas, podem comer desse mundo real os homens,poetas,elfos,duendes, que lhe fizerem mal...

Estou amando te acompanhar. Um beijo Lilás da terra da imaginação.

ótima semana!

MMLI disse...

Sabes o quanto admiro a tua forma de escrever, a maneira como procuras expôr a tua obra.
As últimas postagens denunciam o quanto és capaz de não só atrair, como envolver teus seguidores nos teus escritos, através dos comentários, postado por eles.
A tua escrita é envolvente... Essa nova forma de misturar o mundo real com o fictício, mostra como és criativo e inovador. Dominas sobre o que escreves.
Te parabenizo... MEU POETA PREDILETO.

BEIJOS...

Alvaro Oliveira disse...

Amigo Tacito

De momenro venho agradecer seu comentário.

Como estou com problemas de visão,
não posso estar demasiado tempo a ler no PC. Voltarei para ler todos os capitulos de seu post e depois comentar.

Um abraço

Alvaro

AFRICA EM POESIA disse...

Depois do meu poema cansaço deixo este do meu livro"Salpicos de cá e de lá"...pag 50 e contra capa é para fazer uma pequena reflexão...

MININO"


Minino...Minino preto...
Minino de rua...
Minino roto...
Minino que brinca...
Na água do charco...
Minino que às vezes...
Tem fome...

Mas...
Minino que ri...
porque...
Tem beijo...
Tem amor...
Tem...
Pai e Mãe...Ali...
E fica a pensar...

Eu...
Minino preto...
Tem pouco...
Mas...
Tem muito...
Eu "sabe" rir...
Olho...
Ali...

O branco...
Que corre...
Que não pára...
Para ter muito...
Mas...
Que não ri...
Não sabe rir...
E tem...tudo...
Eu...

Minino preto
não tenho nada...
Mas tenho tudo...
Fecho os olhos...
E espero "ficà" grande...
Mas quero ...
Continuar a rir..
E ter...
O mundo...
Dentro da mão...


LILI LARANJO

Layara disse...

...trágico...