sexta-feira, 31 de julho de 2009

ERA UMA VEZ... (I I I)


Capítulo terceiro



Os Gnomos drogaram as rosas, e as tornaram obcenas. Pássaros se encantaram de azul e cantaram Blues, e a noite os diluiu no horizonte. O cio dos Sátiros ciganos se antecipou às procelas, surgindo à tona incruento o sol, vertendo borbotões de sangue pela chaga rubra na ânfora de duas colinas azuladas.

A mulher Humana da face sulcada de mágoas, acompanhada de seus Gnomos, era insensível a paisagem. Seus olhos enevoados pelas geleiras dos anos, sua audição desgastada pelos sons de todos os timbres e sua epiderme calejada de sofrimentos e de invernos não davam atenção à beleza do por-do-sol, murmurava uma oração fervorosa e voltava os olhos para à terra muda e fria, enquanto suas mãos desenterravam punhados de mágoas do passado, que ela beijava reverentemente...

O Elfo poeta quando a viu naquela estranha idolatria, pensou que a entendia - ela ensandecera - mágoas, desgostos pesam lhe nos ombros, que dia a dia são lhes acumulados. Sofreu também o Elfo, desejou tomar suas mãos, e depois dizer-lhe, entre palavras calmas, a narração sem par das angustiadas almas que anseiam pelo amor das virgens fugitivas...

...a mulher humana lembrou o Elfo de seu compromisso passado, vagas sombras que já andavam perdidas nas asas do escuro.

O Elfo, também poeta das horas tristes lhe disse:

- Nada nos une mais, ó ansias impossíveis!
Deixe que o choro lácrimal escreva, em letras invisíveis, a muda confissão de que não mais nos amamos. Pede me a vida, a terra, o céu, as esperanças, e eu te darei terra, e morte, e o hades.
Queres que eu morra por uma jura de amor que pela vida afora dura, somos dois mútuos desconhecidos vivendo a contemplar risos descoloridos. Foge de mim, que eu também vou fugir de ti, é melhor que assim termine tudo...

O olhar da mulher apenas humana, distilavam mudas e pressagas convulsões de loucos sentimentos. Sua boca enchia o vácuo com o vento do seu grito e assoprava estranhos vendavais.

Foi com seus Gnomos consultar um oráculo que predisse morte de todos os sonhos, e dias de solidão imensos, capazes de ordenar o caos em suas vidas.

A mulher já acostumada a ir com o vento e visitar os silêncios que moram nas solidões, repousa ventanias em seu útero gerando frutos tempestivos, junta vazios e nadas, juntará também agora,
lágrimas perdidas de um poeta martirizado, pois o sonho meu amor, o sonho acabou...

...CONTINUA

8 comentários:

Faces de Mulher disse...

Tristes decepções sentimentais...
Comum na vida real...
Muitas vezes presos a uma relação esgotada...
Não reagimos pela família e pela sociedade...
Amei o texto...
Verdade absurda e absoluta...
Tácito...
Agradecida estou por aceitar meu carinho...
Desejo a você um lindo fim de semana...
Bjs...
Chrys

Anônimo disse...

Quando tudo parecer ter um fim, ressurgi das cinzas um sentimento tão intenso quanto o sol do meio dia e transportará o Elfo para uma nova realidade, fazendo-o ver que a mulher humana é apenas humana, e por ser humana tem suas limitações, mas que pode ser o objeto do seu amor. Ele vagueia através de sentimentos inatingíveis, e irreais e isso, faz dele um solitário. Entrar na vida real, as vezes pode ser supreendente.

Beijos.

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

acompanhando deslumbrado a série ... qta beleza, qta sensibilidade, qta emoção, qta sutileza, ao final comento ...

;-)

Anônimo disse...

Depois de tanto desgaste e evidente a diferença dos mundos, um final feliz ainda é possível???
A mulher humana, com os pés no chão...
O Elfo em busca do inatingível...
Ela com os olhos na terra... ele os olhos no céu... Mas, não estava ele também cheio de mágoa???
Estou esperando pelo final...
Querendo acreditar que possa haver um equilíbrio entre o céu e a terra...
Forte abraço

Jacqueline disse...

Por que nos acostumamos com os silêncios e as solidões? Mas é tão verdade...
Abços!

mARa disse...

Perfeito Conto, que conta o humano e o imaginário. Mas me pergunto se com as mãos na terra não haveremos de ver beleza e raizes de frutos doces outras de raizes amargas. Realidades e sonhos no mundo de Elphame,das fadas, duendes e gentes.
Além das Brumas de Avalon, reside um paraiso de sonhos, entre o mundo real e ficcional. Esse no qual o Elfo e uma mulher apenas humana, residem. Lindo e Perfeito conto. Aguardo o Final.

Um beijo Lilás nesse mundo encantado e ótimo final de semana, Poeta do Mundo de Elphame.

mARa disse...

Aguardo o fim dessa historia encantada.

Beijo encantado!

Layara disse...

...esse episódio é bem triste, vejo essa luta, ansia, convulsão, passado, angustias...De ambos?
...esse capitulo é muito triste.

sorrisos, quanta imaginação, uauu...
vejos essas cenas no palco da vida...
dos bastidores, estou refletindo...