Capítulo Quarto
Foi sem ver que o Elfo poeta transpôs a orla do bosque das tardes liláses. Trilos soltos no ar, dos pássaros amantes, não despertaram seu torpor estésico. Nem as flores perfumadas, que antes faziam dos seus nervos harpas loucas, tiveram seu olhar, seu gesto fraternal.
Enfim, quando chegara ao interior do bosque, sentou-se sobre um mármore tombado, e entregou-se a pensar em sua pequena Dríade. Recorda-a docemente, lembra que a ama tanto, com ternura pensa no seu sofrer. Arrependido de ter sido o causador daqueles momentos quando, desesperada a mulher humana exigia a felicidade de ambos.
Depois, houve um longo silêncio. Um tênue perfume perambulava pelo ar, e vozes em sussurro, como um misterioso concilábulo de borboletas, acetinavam a clareira naquele bosque. O Elfo embevecido escutava os puríssimos acordes que o seu espírito tocava. compreendeu, a magnitude daquele momento e sentiu os olhos úmidos de emoção. Divagando nesse momento, ele contemplou, no olhar angelical da sua amada, que acabara de surgir como uma brisa de cetim, o transcendentalismo de seus olhos em prece. Viu neles, espelhos que refletiam a sua última tristeza, através da penumbra de sua voz, soube que só uma intervenção divina poderia fazer sua amada querer novamente que tudo continuasse como antes.
E, num esforço de quem vai além de si mesmo, o Elfo chorando através dos lábios pranteou:
- Precisas me encontrar lá onde existo, quero dizer, no coração das coisas, nos mitos e nas lendas, nas cores e nos movimentos, nas formas originais e fantásticas, na terra e nas estrelas, nas forças dos astros, no sol e na chuva, precisas me amar.
Disse então, a pequena Dríade, engastada num lírio era a própria figura do deslumbramento, provocando a ascenção de ardentes desejos. O poeta da essência a ouvia:
- Foste uma nuvem boa...
Em meio a uma vida agitada por emoções
Eu que te esperei garoa...
Veio o vento e te fez quase nada.
Foste um raio de sol a brilhar!
Tênue, colorido, adentrando o poente.
Tentei ainda febril te perdoar,
mas pensei em ti e em teu horrendo destino.
Foste a chegada e a partida
Do caminheiro buscando amor.
E como as tardes esmaecidas, na relva amena, deixou sua dor.
Foste nuvem sem garoa...
Um sol que brilhou por instantes.
E o lindo sonho, não foi a toa
Guardarei na lembrança, teu olhar distante...
O poeta dos versos ingênuos, sentiu que a sonata de tristeza que a desgraça desferiu já o envolvia, como um manto. As cortinas nevoentas da solidão, vieram tornar mais tenebroso aquele momento. Chegara à verdade única de que tudo no mundo é sofrimento, e que a vida é um emaranhado, onde o prazer nada mais é que uma dor menos lancinante...
...CONTINUA
T@CITO/XANADU
6 comentários:
A vida é um eterno buscar,buscamos perfeição esquecemos dos sonhos, lá onde vive o Elfo enamorado.
Beijo encantado.
Amigo Tacito;
A fábula é um encanto?
A poesia uma magia?
Ou o texto uma fórmula mágica?
A resposta correta eu não sei...
Estou enfeitiçada.
Beijos mil!!!
Estou ansiosa aguardando esse conto de encanto.
Beijos, está com imagens lindas, texto sinestésico.
ótimo domingo.
¡Hola! Maravilloso
ERA UMA VEZ...Es um sol que brilla.
Un cordial abrazo.
Texto envolvente! Gostei... vou continuar acompanhando com prazer.
Abraços
...humm, e a Dríade cantou essa sonata?
e a Mulher apenas humana, e o Elfo?
rumos distintos tomou tua prosa...
Bjo, embevecida e lendo.
Postar um comentário