quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

REFLEXÕES


REFLEXÕES

“O Poeta é o ápice da evolução”
(Rimbaud)

Pensando nessa afirmação de Rimbaud, até concordei com ela, mas, somente depois de concluir que poetar e evoluir só são possíveis no plano da realidade ordinária, logo, a vida pode ser um sonho. Mas, a poesia não.
Se eu não sonhar, como irei criar ou deformar minhas imagens reais para traduzi-las em linguagem poética? Lançando mão da subjetividade da realidade? Não, prefiro a imaterialidade. Prefiro o direito de criar e sonhar. Embora, nunca tenha sonhado (que eu me lembre!), no sentido comum da palavra, (será a posição que durmo?) consigo, sonhar acordado. Sonho ou insanidade eleva-me a esse ápice evolutivo ao qual acredito que Rimbaud, tenha se referido.
Evolução, é outra palavra também, muito subjetiva. Mas, se tratando de evolução mental, pergunto-me: Consigo evoluir mentalmente sem “sonhar”? Não sinto falta dessa atividade onírica. Por não sonhar, desconheço a hermenêutica do sonho, portanto, os sonhos não me inspiram. Deliro, alucino, não sonho, vejo (?) duendes doentes, dialogo com os fantasmas da noite, visito as divindades, experimento medos e desejos, ouço o eco da alma, compreendo e ouço o silêncio, tão imbuído de significado. Mas as vezes, o silêncio pode ser tão eloqüente, que penso o preferir, ao burburinho da realidade ordinária. Onde, até os bichos sonham, segundo, os estudiosos dos sonhos.
Uma vez, que não me foi dado adentrar o “reino de Hades”, para poetar, não preciso sonhar. Preciso somente da minha insanidade, terrores e festas. Não invejo aqueles que podem sonhar. E, esperam seus sonhos de braços abertos, como a melhor das realidades. Não sei se uma vez fora da realidade, que faz evoluir, minha poesia poderá alçar vôo rumo ao ápice. E, eu poeta solitário escalarei o vértice mais difícil, rumo ao cume. E daí, se me virem verter lágrimas de sangue? Direi, que estou usando colírio de groselha. No mundo dos pesadelos (sonhos pesados), só acontece o que eu quiser. Quando chega a noite, sonhos meus, diante da tua recusa em segredar-me em silêncio, infliges às leis do imaginário, privas-me do direito de criar e sonhar. Então, pego a mala, e por entre névoas te convido e vou: Vem comigo e sê, estou contigo vê?
Talvez, eu queira sonhar, mas só para conhecer outras faces distintas de uma mesma realidade, abordar a efemeridade, a transitoriedade, a instantaneidade da vida como ela não é. Sonhos reais (ordinários), são paradoxalmente mais ficção literária que relato histórico. Relatar o óbvio, o cotidiano, não me interessa, de forma alguma, prefiro estar no silêncio absoluto, para ver erupcionar um som, ouvir o grito de uma múmia, ouvir e ver o emergir do monstro da lagoa, testemunhar o enterro da última quimera.



T@CITO/XANADU

2 comentários:

Anônimo disse...

Marisa:
Li reflexões. Visualizei seus argumentos e sentimentos, sua defesa e interpretação. É bem verdade que os sonhos são sentimentos respirados e depositados no interior de nosso subconsciente. Acredito no grau da emoção desta energia industrializada no longo do tempo de nossas vidas. A fragilidade humana é uma dimensão imensurável de emoção. A arte é uma ponte entre o bem e o mau, o amor e o ódio. Acredito eu que este é o exercício do humano. São complexas suas palavras de uma dimensão universal de conteúdos, são varias ramificações entre tantas discussões que se possa traçar a partir de suas reflexões.
Para mim foi uma boa contribuição. Obrigada por ser essa pessoa que tu és!

Canteiro Pessoal disse...

"O Poeta é o ápice da evolução"; não acredito que tão somente os poetas são o ápice da evolução, mas que o ser humano em questão, cada qual, escritores com suas próprias vozes, próprias histórias.

Valioso seu escrito e seu espaço em questão.

Amei sua visitinha ao meu espaço, seja sempre bem vindo.

Abraços e paz !